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10 julho 2016

Cento e Vinte Anos de um Gigante

10 julho 2016 1 Comentários
UMA REFERÊNCIA DO BENFIQUISMO. HÁ 120 ANOS NASCIA UM GÉNIO DO DESPORTIVISMO. UM HOMEM PARA LÁ DA CLUBITE!


Em vez da primeira pedra, as primeiras enxadadas para a construção da "Saudosa Catedral". Os presidentes da Direcção e da Mesa da Assembleia Geral dão o exemplo. Por isso eram respeitados por todos os adeptos!

António Ribeiro dos Reis. 10 de Julho de 1896. Dia grande do Benfiquismo. Em Lisboa, na freguesia de Alcântara, nasceu um dos melhores de todos nós, Benfiquistas, que nunca chegou a presidente da Direcção (a par de Cosme Damião).

No centro do terreno no jogo de estreia com o "Manto Sagrado". O adversário (preto e vermelho) jogava com uma tira de pano branco a tiracolo (o modo como se desenrascava o facto de não existirem equipamentos alternativos). Jogo no nosso campo de Sete Rios (Quinta Nova), terreno alugado por Cosme Damião a uma quinta da Casa Palmela

Da Casa Pia ao “Glorioso”
Cedo ingressou na Casa Pia de Lisboa como aluno externo. Foi nesta instituição que começou a praticar futebol, mas seria nos Liceus da Lapa (depois Pedro Nunes) onde estudou que evidenciou as características que o notabilizariam como futebolista: esforçado, abnegado, inteligente, empreendedor e dedicado. Ou seja, um jogador “à Benfica”, bem ao “estilo” de Cosme Damião que viu nele um diamante. Foi aliás este grande Benfiquista, então “capitão geral” do Glorioso que o propôs para associado do nosso clube. Foi aprovado em 30 de Setembro de 1913, aos 17 anos, com o número 469.

Em Sete Rios, na 2.ª categoria, na primeira mão da final do campeonato regional. António Ribeiro dos Reis faz de avançado-centro na expectativa de um franguício!

Tarimbar à Damião
Apesar das suas qualidades, sujeitou-se ao “sistema de Cosme Damião”, estreando-se na linha avançada, a avançado meia-direita (depois interior direito), como futebolista da 3.ª categoria, em 2 de Novembro de 1913, na jornada para o campeonato regional de Lisboa, frente ao SG Sacavenense. Após quatro jogos – estava tarimbado mostrando ser confiável – estreou-se ainda em 1913/14 na 2.ª categoria, a 28 de Dezembro de 1913, mantendo-se no mesmo lugar, embora frente a outro adversário, o Sporting CP, para o respectivo campeonato de Lisboa. Até final da temporada fez mais dois jogos na 3.ª categoria e outros dois na 2.ª categoria, sagrando-se no final da época “Duplo campeão” pois o “Glorioso” conquistou os respectivos Regionais, numa época em que o Benfica conseguiu uma proeza de elevado quilate: quatro campeonatos, quatro conquistas, da 1.ª à 4.ª categoria. Cosme não perdoava!

Em 1913/14, uma equipa de grande categoria, embora a jogar no campeonato regional da 3.ª categoria. António Ribeiro dos Reis é o segundo a contar da esquerda (sentado)

O topo do Mundo: 1.ª categoria, dirigente e jornalista no…Benfica!
Com pouco mais de 18 anos estreou-se, ainda como avançado na meia-direita, na 1.ª categoria do Benfica, num jogo em S. Sebastian (País Basco/Espanha), em 31 de Dezembro de 1914, com a Real Sociedad, numa das habituais digressões a Espanha tão do agrado de Cosme Damião para dar ao futebol do clube uma dimensão de qualidade! Ainda na transição de uma época para outra, em 29 de Agosto de 1915, com 19 anos, foi eleito como dirigente do Clube, para o cargo de «relator do Conselho Fiscal» e afirma-se como elemento nuclear do corpo redactorial no jornal “O Sport Lisboa” cujo primeiro número saíra em 24 de Agosto de 1913. Começavam a definir-se as áreas onde melhor iria “brilhar”: o jornalismo desportivo e o dirigismo benfiquista. Depois é todo um percurso notável que haveria de culminar com a concessão do galardão supremo «Águia de Ouro”, votado por aclamação na assembleia geral, em 20 de Agosto de 1933. Regressaria como figura prestigiada para a presidência da mesa da assembleia geral durante dois períodos (com eleições anuais) entre 31 de Agosto de 1940 a 18 de Janeiro de 1945 (quatro mandatos), seguindo-se mais nove mandatos (30 de Janeiro de 1948 a 4 de Julho de 1956, não terminando o mandato por questões de saúde). Faleceu em 3 de Dezembro de 1961 depois de longa agonia.

Na estação de comboios do Rossio (Lisboa) pouco antes da partida para a digressão a Espanha no final de 1914/ início de 1915. É o primeiro (em baixo) a contar da esquerda. Seria em San Sebastian que se estreou pela 1.ª categoria. Num jogo internacional. Cosme Damião era sagaz!

Rotura, cultura e pedagogia
Esteve na rotura que provocou o afastamento de Cosme Damião – que será desenvolvido neste blogue na data certa – e assumindo o cargo de “capitão geral” foi um pedagogo notável em explicar a história do jogo, a essência e princípios do Futebol, bem como interpretar as leis do jogo. Tem uma bibliografia notável que deve ser lida e compreendida para perceber o rumo do Glorioso Futebol entre 1926 e 1954, ou seja, entre o afastamento de Cosme Damião e a chegada de Otto Glória, pela “mão” do inesquecível Joaquim Ferreira Bogalho. Este um Benfiquista “sem papas na língua” que dizia: Esse é Benfiquista? Não será antes Benfiquense ou BenfiQuisto? Agora, quase aposto que “criava outro género”. O Benfiqueiro!

Dois dos melhores dirigentes da Gloriosa História. Joaquim Ferreira Bogalho e António Ribeiro dos Reis. Dirigentes à Benfica! Humildes e discretos. Só o Benfica interessava!

António Ribeiro dos Reis
Nos últimos anos teve a alegria de ser Campeão Latino (1950) e sentir-se Campeão Europeu (1961). Faltou o Bicampeonato. Quando este ocorreu já brilhava para lá do infinito, pelo Quarto Anel.


Foi com “Homens desta Fibra” que o Benfica se fez Grande!

Alberto Miguéns

Registo de baptismo enviado pelo leitor deste blogue Victor João Carocha (adicionado às 12:18)

(clicar em cima da imagem para visualizar com melhor definição)




NOTA: Especial agradecimento à sua filha D. Margarida Ribeiro dos Reis pelo que me cedeu com a feliz circunstância de ter nascido no mesmo dia do seu extremoso pai… 36 anos depois! Parabéns!

Vasta Bibliografia (para ler. Não é só para dizer que é...reconhecida!)






Um teórico alicerçado na prática. Jogador (3.ª, 2.ª e 1.ª categoria), capitão, elemento do "Conselho Técnico" de Cosme Damião, capitão-geral, treinador de campo, jornalista, dirigente. Este é dos que tudo deu e nada levou. A não ser a eterna gratidão dos Benfiquistas (pelo menos enquanto houver quem se lembre dele). Que melhor pode querer um Benfiquista!?

1 comentários
  1. Aquelas duas imagens de Bogalho e Ribeiro dos Reis a lançar a construção do mais belo Estádio de sempre são emblemáticas do SL Benfica. Os líderes do Clube a dar o exemplo e a lançarem o futuro em que tudo passaria por aquele Estádioo mítico.

    Ribeiro dos Reis foi como o Alberto disse um gugante, um homem de excepção. Usou de valores inqebrantáveis na sua vida associativa e militar. E como deve ter sido difícil ir em sentido contrário do que o seu coração dizia por exemplo no caso de Cândido de Oliveira.

    À semelhnça de Cosme acabou por ser quase tudo no SL Benfica. Não foi presidente e porque não quis. Mas foi como o Alberto nos refere hoje e noutras ocasiões um ideólogo, que juntamente com outros gigantes - que afortunado fomos - como Ferreira Bogalho e Manuel da Conceição Afonso, uma figura crítica para a adaptação, evolução e sucesso do nosso Clue num País e numa sociedade Portuguesa que tanto mudou ao longo da sua vida.

    Não apenas a questão de Cândido de Oliveira mas também a rotura de 1926 com Cosme e as suas visões, terão sido um duro teste ao seu coração. MAs só um coração enorme e uma lucidez de visão explicam que tenha colocado o SL Benfica acima de tudos e de todos. Até dele próprio.

    Glória e honra a este gigante. Uma linda e justa evocação.

    Obrigado.

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